terça-feira, 27 de junho de 2017

Juntos por todos

Pinterest _Pedrogão Grande

Têm sido semanas duras, em que os olhos estão postos na comunicação social pelas piores razões. O sentimento de inutilidade tem-me assombrado. As imagens fazem doer. Fazem-nos amar ainda mais os nossos e querer abraçar todos com força. As noites têm sido agitadas. Sem sossego. Separámos roupas para enviar, ração para animais. Tão pouco, sentimos.
Acordei cedo para uma caminhada a teu lado.O corpo e a mente agradeceram. Essa liberdade faz-nos bem!
Um dia cheio de pequenas situações controversas e que me deixaram um nó na garganta. O ser humano gosta de complicar. Muito!
O abraço e a gargalhada dos pequenos fizeram-me esquecer um pouco ... mas o coração não estava em paz... 
Depois de jantar estou no sofá a assistir ao concerto no Meo Arena pelas vitimas de Pedrogão Grande. Portugal juntou-se para uma noite de renascer! 
Ao mesmo tempo que se canta a dor, o amor, a esperança e a força, vêm-se imagens dos que sofreram na pele. Os que perderam tudo, e até todos os que amavam, esboçam um sorriso. Um sorriso de agradecimento, um sorriso de quem ainda consegue apreciar a beleza desta noite de música! Deus realmente dá as maiores batalhas aos soldados mais fortes ... O meu coração descansa finalmente um pouco.
Deixemo-nos de tretas ... juntos por todos, todos os os dias ... era tão mais fácil. 
Que noite bonita ...

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Love Lisbon


Estudei quatro anos em Lisboa, trabalhei nove e vivi doze.
Apanhávamos o autocarro para Belém, dávamos um passeio e comíamos pasteis quentes com açúcar em pó e chocolate quente. Saiamos à noite uma vez por semana. Ou duas. Comíamos pão com chouriço e caldo verde na Av. 24 de Julho, bebíamos poncha de maracujá e chegávamos a casa de manhã, prontas para ir para as aulas. Conhecemos algumas praias da linha, numa tarde ou outra livre.
Com o início do trabalho conhecemos alguns restaurantes, esplanadas em topos de hotéis, porque o nome é badalado e fica bem estar na moda. Alguns encontros no Camões e umas saídas pelo Bairro alto, que diga-se de passagem nunca foram as minhas preferidas. Vivemos algumas noites de Santo António, com direito a jantaradas em Alfama, quando o trabalho o permitia. Deitar tarde e cedo erguer passou a ser mais difícil!
Apanhava um dia por semana o autocarro para o Cais do Sodré, o comboio do Cais do Sodré para Cascais para fazer umas horas numa clínica e na mesma manhã voltava noutro comboio para voar de táxi para outro trabalho. Aquela manhã sabia-me tão bem. Ia de madrugada, via o nascer do Sol através da janela do comboio e o mar brilhante. Raramente adormecia naquela viagem.
Nos tempos livres fugíamos para casa dos pais, nem que fosse para passar dois dias a mil à hora. Ainda hoje sinto a necessidade de voltar a casa. Sempre!
Durante doze anos conheci tão bem outras cidades da Europa e nunca conheci Lisboa. Não conheço a cidade das sete colinas. Conheço alguns museus da época de criança, revivi algumas destas visitas em adulta. Não conheço a história, as datas, os pormenores, os cantos, os significados. Digo tantas vezes que temos de tirar ferias para conhecer Lisboa. Ser turista em Lisboa deve ser uma experiência única.
Um destes dias acordei e pensei que estava na hora de começar ... que tal fazer uma pequena viagem nos famosos tuktuk pela zona velha de Lisboa? As decorações dos Santos populares dão agora uma nova cor e encanto à cidade e a viagem seria especial certamente. As amigas dos pasteis e do pão com chouriço alinharam na ideia.
Colina de S. Vicente de Fora,  Colina do Castelo, Colina da Graça  ... um guia super divertido, umas manobras perigosas pelo meio de eléctricos, tuktuks, táxis, autocarros e turistas a pé. Muitas gargalhadas. Muitas fotografias. Um sobe e desce cheio de energia.
A Sé, o Panteão Nacional e as obras de Santa Engrácia, o Castelo, o Martim Moniz lá em baixo ... no incrível Miradouro da Senhora do Monte. As marcas do Terramoto e a reorganização de Marquês de Pombal.
Ver a alvorada das ruas de alfama, depois de uma noite longa e os preparativos para a noite seguinte. O cansaço na cara dos bairristas, misturado com a alegria de poder viver mais um ano estas festas.
Sardinhas para o almoço num beco debaixo de árvores com a melhor sombra.
Obrigada Lisboa ... não me vou esquecer de ti!






























Fotografia de Liliana Lopes e Mário Filipe
TukTuk lxtuktour

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Veramente....

Fomos comemorar. 
Londres. Uma agradável surpresa. Esperava o escuro, as caras sérias, o ambiente desarrumado. Encontrei o Sol e gente como nós.
Não encontrei a diferença. Todos frequentam as mesmas ruas, os mesmos transportes. Todos se encontram numa miscelânea cultural e de moda cheia de uma harmonia desconcertante. Ninguém se incomoda sequer a pensar alguma coisa acerca do que o outro veste ou usa. As ruas e os jardins limpos e cuidados. 
Os dias eram curtos para o roteiro tão exaustivo preparado. Dias com direito a arte, história, diversão e raros minutos de silêncio.
O despertador tocava cedo e as pernas saltavam para mais um dia de descoberta. Já tinha saudades de uma destas viagens em que o dia acaba com os tornozelos a doer, os joelhos difíceis de dobrar e a memória cheia de imagens bonitas.
Foi a tua primeira grande viagem por cidades europeias. O teu olhar não parava um minuto, como quem quer beber todas as imagens sem deixar escapar nada.
As ruas cheias. Cada um para seu lado traçando-se linhas infinitas. Uns para o trabalho, outros para a escola, outros em passeio, outros a fazer exercício físico. Tudo no mesmo quadrado.  
Acho que foi a historia por trás desta cidade que me cativou. A história da realeza, os rituais, a sua intervenção na II grande guerra e as marcas que dela continuam inapagadas. Sempre gostei de filmes baseados em historias reais ... Londres é um desses filmes.
Adorei as cores ... o vermelho dos autocarros e das cabines telefónicas, o verde imenso dos jardins, o tom areia dos edifícios com as luzes da cidade ... o quadro da vida de Londres é incrível a cada esquina.
Adorei o cheiro a café. O café português não tem concorrente à altura, mas Londres cheira a café, a baldes de café. Nas ruas, no metro, no comboio, o café quente acompanha todos para todo o lado.
Adorei o brilho, das pontes, dos palácios, das igrejas, das estátuas. O brilho das jóias da coroa naquela torre branca e imponente ... o brilho da Abadia de Westminster que me tirou a respiração por minutos.
Adorei ver a arte, a tela antiga e a moderna. Conhecer a história ... um pouco da história de Londres e dos que nela deixaram o seu legado.
Adorei as ruas cheias de lojas, as zonas mais pitorescas, os mercados e as velharias. As Praças onde todos se encontram ao final do dia de trabalho.
Adorei o Globo, a recordação viva fabulosa que Shakespeare nos deixou.
Adorei as pontes, os caminhos, os edifícios tão luminosos e modernos.
Adorei viver como criança no mundo dos M&M's, da Lego e da Hamleys.
Adorei espreitar para o Palácio, ver as luzes lá dentro acesas e sonhar.
Adorei correr para conseguir entrar no navio ancorado nas margens do Tamisa e sentir o cheiro a bolos e a pão quente, subir e descer escadas da zona das máquinas...abaixo do nível do mar. Adorei pertencer à Marinha Real Britânica e conhecer todas as suas rotinas.
Adorei ver Churchill e os que durante anos viveram naquele bunker, um comando de guerra subterrâneo. Porque quase vi, cheirei e senti a tensão daqueles dias ... Tudo está igual!
Adorei subir as escadas da estação de metro e deparar-me com uma torre enorme ... tão mais espantosa do que eu imaginava ... e de me fazeres pensar no enorme sino que lhe dá nome, o Big Ben. Cheguei cedo, com pontualidade britânica para não perder nem um minuto daquele dia.
Adorei apanhar o barco e chegar finalmente à ponte que via nos livros e nos filmes. 
Adorei andar na roda gigante e ver tudo aquilo que já tinha visitado.E era tão bonito.
Adorei acordar e ver que me restavam umas horas para conhecer as casas coloridas de Nothing Hill... a porta azul traz tantas lembranças. As ruas, marcadas com linhas no chão para o Mercado de Portobello, cheiram a pão, a croissants e a café.
Adorei tanta coisa que não consigo escrever, sinto os cheiros, oiço os sons, as imagens transbordam na minha memória...
Adorei apanhar o avião de volta e conhecer um pequeno de 7 anos, italiano a viver em Londres. Parou no meio de mil brincadeiras e perguntou:
-  "You are married?".
Depois daquela maravilhosa viagem em que passámos o tempo a voar de um lado para o outro, parámos finalmente e respondemos a sorrir:
"Yes, we are married"
Com ar pasmado perguntou:
"Veramente???".
- "Veramente".























































































Fotografia de
Liliana Lopes
Mário Filipe